O ícone do jornalismo Domingos Meireles abre seu livro de grandes histórias e matérias jornalísticas
Por Erlinda Santos
``Não basta ser bom, a sorte é fundamental``. Essa é uma das frases que sintetizam o conteúdo da palestra ministrada pelo ícone jornalístico do Linha Direta, Domingos Meireles, aos estudantes de jornalismo na academia brasileira de letras no dia 04 de abril. O vencedor do Prêmio Jabuti de 2006 na categoria ciências humanas, conseguiu de forma categórica, prender a atenção de todos os presentes na palestra, ao relatar sua fantástica jornada de matérias que repercutiram no mundo todo, entre elas, a trajetória de literatura histórica em 1974, com a coluna Prestes, e o ciclo do tenetismo.
Segundo ele, seu maior desafio como profissional, foi quando entrou na editora Abril e fez duas matérias que chamaram a atenção. Fez a matéria sobre roubo de carros, que segundo ele, ficou sabendo dos furtos através de um anúncio de jornal. Ele foi ao Paraguai á procura de um carro roubado e encontrou 48. Acabou desvendando uma rede de crimes, que antes estavam camuflados, e ninguém dava tanta importância á um fato comum na época. Muitos carros eram roubados, acabavam cruzando a fronteira, nunca mais eram encontrados e acabavam ficando no esquecimento. A outra matéria que a ajudou a consagrar-se no mundo jornalístico, foi a matéria de um cego que tirou carteira, ``O cego e as quatro rodas``. Segundo ele, mesmo ainda despreparado para tanta responsabilidade, essas duas matérias legitimaram sua presença de 1968 á 1971 na editora Abril Afirmou ainda, que considera o fato de entrar de corpo e alma no mundo jornalístico, como uma questão de muita sorte, não desmerecendo seu esforço. Após a grande repercussão dessas matérias, recebeu muitas propostas, do Jornal da Tarde, Globo e Estadão. Em 1985, mesmo ainda não se achando preparado, recebeu uma outra proposta irrecusável da TV Globo. Confessou que foi muito mal recebido na redação, mas que isso não foi nenhum impedimento para que continuasse dando o melhor de si em suas matérias. ``Foi um milagre que tenha sobrevivido naquela época``, afirmou ele.
Mesmo eufóricos com a possibilidade de ganharem um autógrafo de Meireles nos livros que foram distribuídos na portaria, os estudantes se calaram e se concentraram no momento em que Domingos mencionou a origem das suas histórias. Ele contou com minuciosos detalhes a marcha da coluna na qual peregrinou durante 2 meses que foi de 1924 á 1927. Segundo ele, começou a colocar anúncios em jornais para achar pessoas desaparecidas na época do tenetismo e deixava o roteiro em emissoras de rádio para anunciar sua localização e sua chegada. Domingos disse que tinha uma dívida pessoal com os rebeldes e precisava prosseguir com as investigações. Ele afirmou ainda, que mudou o olhar em relação á coluna. ``A história oficial é a visão do vencedor, que olha o que interessa na defesa dos seus direitos, que de certa forma, se compara á história americana do bombardeio ao Iraque.
A história rendeu um livro, ``O ciclo do tenentismo, que já está na 12 edição, e de 1996 até agora, já vendeu 60 mil livros. Tentando fazer uma reprodução do fato histórico, Domingos foi ao interior da Bolívia e se dedicou ao trabalho de reconstrução do cenário e personagens. Entrou num tanque, procurou saber como funcionava uma metralhadora, e estudou todo o armamento envolvido na Coluna Prestes. ``Eles tinham alma e carne como nós``, desabafou. O segundo livro de Meireles ``Os órfãos da produção``, é como se fosse uma retranca do primeiro e aborda como os tenentes do exílio fazem as pazes com seus oponentes. A história de uma conspiração com todas as suas misérias e horrores. Segundo ele, seu objetivo foi visitar os locais desse horror e transmitir aos leitores toda a realidade vivida na época.
Outra matéria que Domingos se orgulha, é a pesquisa sobre suicídio, de como as mulheres se matavam. Segundo ele, um fato corriqueiro, mas que ninguém dá o devido interesse, e não procura saber quais os motivos reais que levam á esse desastre. Ele concluiu que a morte vem de acordo com a posição social. Ao mencionar essas matérias, ele insiste que a sociedade carece de importância em tudo que gira ao seu redor e fala do descaso de fatos que podem ser investigados e levados á sério. ``O meu interesse pela leitura e história tem o objetivo de estimular. Estamos construindo cada vez mais uma população de alienados, e falta de leitura é pior que a dengue``. Conclui ele.
segunda-feira, 7 de abril de 2008
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