quinta-feira, 24 de abril de 2008

RESISTENTES Á INTERNET

Excluídos do mundo moderno
Por Erlinda Santos
Pesquisas da FGV mostram que uma grande parcela da população brasileira não tem nenhum tipo de contato com a Internet. Por incrível que pareça, ainda existem pessoas que tratam o computador, (considerado a máquina do futuro), como algo estranho, que nunca nem se quer tiveram acesso. O mesmo computador que já faz parte da família, e que está no dia -dia executando uma série de serviços essenciais, servindo de entretenimento, substituindo cartas, telefonemas, estreitando laços e até mesmo servindo para matar a saudade de quem está do outro lado do mundo, por algumas pessoas é visto como um bicho de sete cabeças. E-mail, orkut, MSN, on-line, são expressões que ainda estão fora do cotidiano de quem nunca teve a chance de sentar-se diante de um computador e digitar pelo menos algumas palavras ou mandar um simples e-mail. É como se vivessem em outros planetas, longe dos recursos proporcionados pela Internet. Os internautas costumam dizer que pessoas assim tem ``três orelhas``, de tão diferentes que são das pessoas que usam a Internet. Estamos falando do famoso e futuramente extinto analfabeto digital.
``Não sei nada sobre essa tal de Internet. Aliás, só sei o que passa pela televisão, e sei que da mesma forma que pode ajudar muita gente, também pode prejudicar. Sei que as pessoas fazem compras pela Internet, e ouço muito falar em sites de relacionamento, mas confesso que nem sei pra que serve isso. Fico sabendo de muita gente que acabou sendo lesada através da Internet. Apesar de Ter uma filha jornalista que usa constantemente a Internet, eu nunca cheguei perto de um computador, afirma dona Dejanira Luiza Pereira de 74 anos. Segundo ela, a Internet não existe em seu universo, e que sente muito medo das coisas ruins que ela pode provocar. Ela divide suas opiniões entre o que pode ser positivo ou negativo através desse recurso que é sinônimo de vida moderna. Não, para ela, garante dona Dejanira.
A diarista Nazaré da Silva Ribeiro de 34 anos, mãe de dois filhos de 7 e de 11 anos, afirma não saber nem ao menos ligar um computador, mas que é ciente da importância da Internet no mundo atual. Ela diz que apesar de estar totalmente fora da era digital, tem vontade de aprender, até mesmo para não continuar se sentindo um peixe fora dàgua, e quer que os dois filhos aprendam tudo de Internet para que não passem pelos mesmos constrangimentos que já passou por ser uma analfabeta digital. `` Já cheguei a perder vários empregos por não saber nada sobre computação, e tenho noção de como isso atrasou minha vida. Não quero que esses problemas se repitam com meus filhos. Resisto ao mundo digital que é bem mais complicado, e a Internet, mas sei que tenho que me adaptar a essa nova fase, que é mais do que nunca, essencial para o funcionamento da vida moderna``. Conclui ela, ciente da importância da inclusão digital.

sábado, 12 de abril de 2008

O Brasil mais idoso

As pesquisas do IBGE confirmam este dado, que se propaga e pode ser visto em todos os lugares

Por Erlinda santos-12/04/2008

A quantidade de idosos no Brasil vem aumentando cada vez mais nos últimos anos, reflexo isso, do aumento da expectativa de vida da população. Para se ter uma ideia, em 1991, o número de pessoas acima de 60 anos era de 10.722.705, enquanto em 2000 esse número saltou para 14.536.029, um aumento de 35,6% em menos de 10 anos. A população brasileira com idade acima de 65 anos duplicou nas últimas cinco décadas. Atualmente, são 16 milhões de idosos ou 9,3% dos brasileiros.. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e apresentam uma tendência de que, em breve, o Brasil será um país de velhos. E esses números não param por aí, Estudos apontam o aumento da expectativa de vida no Brasil. Na década de 50, os brasileiros morriam com menos de 50 anos, para 2020 esta faixa é projetada para 71. A proporção de velhos cresce: são 650 mil a cada ano e segundo o IBGE, os idosos brasileiros chegarão a 30 milhões em 2020, quase 13% da população. Até 2050 serão cerca de 36 milhões de idosos no Brasil, sendo 15 milhões só na região sudeste.
Assim, apesar de a constituição de 1988 em seu artigo VII abordar alguns princípios e direitos assegurados aos idosos, fez-se necessária a promulgação de uma legislação que abrangesse, em particular, os integrantes dessa classe que ao longo de suas vidas construíram e melhoraram nossa sociedade. Com isso, foi criada em 1994, a Política Nacional do Idoso, e dez anos depois – em 2004 – o Estatuto do Idoso, uma lei que abrangia de forma mais ampla os direitos dos idosos.
Se por um lado é gratificante sabermos que as pessoas estão vivendo mais e melhor, por outro teremos sérias modificações no cenário político e sócio-econômico do país que não podem ser ignoradas.
Considerando que o número de idosos está crescendo e a taxa de natalidade diminuindo, observamos temerosos a pirâmide social se invertendo. A sua base, formada atualmente por crianças aos poucos vai sendo substituída pelos idosos, enquanto que as crianças passam a ocupar seu vértice. As conseqüências dessa inversão serão muito sérias, pois o grande número de idosos no país vai sobrecarregar os sistemas previdenciário, de saúde e todos os demais órgãos de atendimento à pessoa idosa. As maternidades aos poucos serão substituídas pelas casas de repouso ou pelos asilos. Segundo a médica geriatra Márcia Maria, o Brasil é diferente da Europa que se preparou para a velhice, e se quisermos, podemos buscar na Europa estes conceitos e aprimorarmos aqui no Brasil.
Através da Portaria número 56 de 25 de novembro de 2004, a Secretaria de Educação Superior e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação, constituíram uma Comissão Especial para elaborar diretrizes e propor políticas para a formação de profissionais aptos a atender as necessidades dos idosos. Tal preocupação se justifica pelos estudos recentes do IBGE apontando que até 2025 o Brasil será o sexto país do mundo com maior número de pessoas idosas, ou seja, acima de 60 anos. O total de idosos já é de 16 732 547 pessoas de 60 anos ou mais..
Será necessário que a sociedade se conscientize dessa nova realidade e se prepare para receber esse contingente da população que só tenderá a crescer.
Outra ação importante, tanto do governo quanto da sociedade, é despertar na população a necessidade da prevenção de doenças, de fazer exercícios físicos, de ter uma alimentação saudável, de ter lazer e tudo mais que possa contribuir para uma vida com qualidade, ações que irão aliviar os sistemas hospitalar, previdenciário e asilar. É preciso uma conscientização dos setores de serviço, comércio e indústria, da importância desse contingente da população, que estará demandando um grande número de necessidades como: turismo, lazer, vestuário (moda), transporte, cultura, educação, arquitetura, arte, artesanato, saúde, medicina alternativa, espiritualidade e todas as áreas da medicina.

JÁ NÃO É MAIS COMO ANTIGAMENTE
A idéia de que a velhice é para cuidar de netos e fazer croché, cai por terra ao vermos nos olhos de dona Dejanira Luiza brilharem ao contar detalhadamente suas receitas de comida mineira. Com o jaleco branco, touca e luvas de borracha, está pronta e cheia de disposição para começar a maratona de duas receitas tradicionais, que antes eram guardadas a sete chaves. Como se estivesse estrelando em uma novela, ela nos conta detalhadamente sua participação no programa, que apesar de menos de dois minutos quando vai ao ar, demora quase um dia inteiro para serem feitas. Dona Dejanira aos 75 anos, participa de um programa de TV exibindo suas receitas. Para ela é um mundo novo, uma parte da qual não sabia que seria capaz de encarar com tanto profissionalismo. Ela se orgulha de expor para o Brasil inteiro e até para alguns países da África, onde o programa passa, suas receitas que antes eram degustadas apenas pela família que se reunia no Domingo. Mãe de 15 filhos, hoje mora apenas com um, mas apesar da infância sofrida, deixa transparecer sempre um ar de jovialidade e destreza. Sua rotina é intensa e começa por volta das seis da manha. Ela levanta, trata de suas galinhas, de seus patos, e de seus três cachorros. Além disso, cozinha, arruma toda a casa e costura para fora, fazendo pequenos concertos em sua máquina antiga que funciona apenas com um pedal, exigindo-lhe ainda mais esforço.. Tanta disposição merecem um cuidado extra da saúde. Hipertensa por hereditariedade, ela faz controle da pressão arterial, e é atendida pelo projeto saúde da família, onde recebe acompanhamento médico especializado, e todos os remédios gratuitamente no posto de saúde do bairro onde mora em Sabará. Ela sabe da importância de se ter um cuidado á mais nessa fase da vida. Além do controle da pressão, ela faz controle da glicose e do colesterol, tendo que abster se de alguns alimentos, que ela adora.
Para Liliane Ferreira, enfermeira chefe do posto de saúde em Sabará, onde Dona Dejanira faz controle, é de uma importância imensurável que o idosos, principalmente os hipertensos façam o controle da doença. Outro fator importante que ela considera para o aumento da longevidade, é a vacinação dos idosos que acontece anualmente. Segundo ela, a vacina funciona como um escudo protetor, que impede que outras doenças oportunistas se manifestem através da gripe. Um exemplo típico é a pneumonia, que traz uma série de complicações levando até a morte.
controvérsias
``A evolução da medicina permitiu o aumento do número de anos, mas não necessariamente da qualidade de vida``. É oque afirma a médica geriatra Márcia Maria Nelson, 46 anos do Lar de Idosos José Vercosa Júnior. Segundo ela, além da medicina, que contribuiu para uma expectativa de vida maior, o aumento do número de idosos pode estar ligado á outro fator que acaba passando despercebido, que é a diminuição da taxa de fecundidade. Ela afirma que enquanto o número de idosos só tende a aumentar devido á uma vida mais saudável e o controle de doenças crônicas, o número de partos diminuiu bruscamente. ``Antigamente as famílias eram grandes, com muitos filhos, sobrinhos, primos. Agora, com a prática de muitos de optarem por somente um filho, provavelmente, muitas pessoas nem terão a chance de terem sobrinhos, já que não terão irmãos para lhe proporcionarem isso``, afirma a médica, que se diz preocupada com as estatísticas que alarmam cada vez mais a sociedade, já que ainda não se tem uma estrutura preparada para tantos idosos que ainda virão. O lar de idosos José Vercosa abriga somente mulheres. Atualmente tem internas, que vão de 75 a 98 anos. Segunda a geriatra, nesta instituição é feito um trabalho com uma equipe multidisciplinar que conta com terapia ocupacional, fisioterapia gerantologia e geriatria. Também é feito um trabalho especial desenvolvido por nutricionistas, enfermeiras e voluntários, com a finalidade de manter a autonomia dos idosos e na tentativa de solucionar além de doenças típicas como a artrose e hipertensão, a depressão e a dependência, conseqüência da perda da autonomia.
A estudante do 7 período de terapia ocupacional da UFMG, Vanessa Pertenço desenvolveu na instituição, a ``arteterapia``, com a ``dança sênior``, que segundo ela, tem o objetivo de promover uma fisioterapia involuntária dos idosos. ``Mudou-se o conceito de saúde. Ela não é ausência de doenças, e sim, a prova de uma vida ativa. Atrás da dança sênior, com as atividades corporais, existe um grande resgate da auto-estima, essencial no envelhecimento saudável``, afirma ela.
DIFERENCIAL
Na tentativa de solucionar um dos maiores problemas de saúde das idosas, e com a autorização da vigilância sanitária, um cachorro passou a fazer parte da rotina das moradoras do Lar José Vercosa. Segundo a gerente e especialista cuidadora de idosos da instituição, Márcia Regina, ao passearem com as ``senhorinhas``, notou-se que elas ficavam encantadas com os cachorros que viam pela rua, e queriam de qualquer forma levá-los para casa . Ao voltarem para a instituição, ficavam deprimidas e pediam para a rua por causa dos cães. Como não era possível sair sempre, porque a locomoção era difícil por causa da debilidade física delas, pelo fato das ruas serem de calçamento, e de existem três cadeirantes no grupo. Foi decidido pela equipe, que seria melhor adotar um cachorro, que recebeu de uma das idosas, o nome de ``Duque``. Segundo Márcia, o cãozinho mudou a vida delas. ``São elas que cuidam do cachorro, e de retorno, ficam muito mais felizes e dispostas``, afirma Márcia.. Mas, um dia o cachorro fugiu e sumiu por um mês para desespero delas. Ao voltar trouxe companhia. Uma cadela que recebeu o nome de ``Diana``, sugerido por outra idosa. ``As minhas meninas (como márcia se refere ás idosas) fazem a maior festa. Elas cuidam dos dois o tempo todo, como se fossem filhos e certamente isso afasta a depressão. A maior alegria da minha vida é vê-las felizes, e gostaria de fazer ainda mais, o possível para elas se sentirem bem. A velhice não é exclusividade apenas delas, mas sim, onde todos chegaremos. Envelhecer feliz é o mínimo que merecemos ``, afirma Márcia Regina. A geriatra das idosas afirma que elas sofrem muito com problemas de carência afetiva, e que existe um estudo relatando que o animal é muito importante para a afetividade. Além disso, para ocupar o tempo e para não se sentirem inúteis, são delegadas a elas, funções de acordo com suas vontades e possibilidades. Como os quartos são individuais, cada uma cuida do seu próprio espaço e ajudam na medida do possível na cozinha fazendo pequenas tarefas. Um projeto de ``horta suspensa`` está sendo implantado no Lar, adaptada para as idosas que fazem questão de cuidar das plantas e hortaliças.
MUITAS HISTÓRIAS
De patroa á empregada. Assim é o universo daquelas que residem no mesmo lar. Aninha, 86 anos, Conceição da Silva, 89 anos, Cecília Filomela, 81 anos, Terezinha Romanel, 77 anos, Terezinha de Jesus, 79 anos etc. Varias histórias, mas um único endereço, o Lar de idosos José Vercosa. Terezinha Romanel era uma mulher rica, que teve alguns problemas na família que acabou se desestruturando ela ficou sozinha, e foi morar na instituição. Surpresa maior foi em saber que no mesmo lar morava uma daquelas que foi sua empregada nos tempos de glória. Terezinha de Jesus. Tem dez filhos, 43 netos, 13 bisnetos, e é viúva. Segundo a gerente da casa, é ela quem ajuda a cuidar das companheiras. Foi morar na instituição após sofrer um enfarto que lhe rendeu tres cirurgias. A paciente psiquiátrica Maria das Dores Soares com 74 anos é a mais nova de todas e está na instituição há um ano. Foi casada 4 vezes e teve um casal de filhos. Filha de ciganos, foi cartomante e trabalhou muitos anos no circo como atiradora de facas, mulher fogueira e mulher enterrada viva. Chegou no Lar após sofrer um acidente. Além disso, tem uma ponte de safena e operou recentemente o intestino. Um pouco confusa, ela afirma que gosta do lugar onde vive, mas que suas companheiras sentem muito ciúmes da amizade dela com Márcia Regina, a gerente da casa, que é considerada como sua heroína, sua melhor amiga, e que só continua na casa por causa dela. Ela diz que tem vontade de sair dali, morar em uma casa grande e tomar conta de sua vida sozinha, mas se entristece ao dizer que perdeu tudo o que tinha inclusive sua família. Agora, seu mundo se resume em um pequeno quarto com uma cama, um guarda-roupas uma cômoda, um ventilador que foi emprestado por uma amiga, e pequenas lembranças que enfeitam a cômoda. Uma foto de quando tinha 27 anos, algumas imagens de seus santos de devoção, e uma velha boneca com roupas feitas á mão, que foi herdada de uma das companheiras que morreu recentemente há um mês. A boneca se chama Vanessa em homenagem á professora voluntária de ``dança sênior``, que vai na instituição toda Quarta feira, dia esperado com ansiedade por todas. Ela descreve detalhadamente seu casamento cigano e diz ainda que sente saudades de quando lía as mãos das pessoas e fazia previsões, mas que agora tem medo de ler e prever tragédias. São várias histórias, mas que residem e se resumem em um único cotidiano, o asilo, que Márcia Regina, gerente do lugar não gosta que se refiram ao lugar assim, mas como casa de repouso e tranqüilidade.
VIDA DE ARTISTA
De salto alto, colar, blusa vermelha decotada e muito bem maquiada, ela recebe a equipe do programa de TV em seu apartamento, mesmo operada há poucos dias de Glaucoma,. Apesar de não gostar muito, ela troca de roupa e aparece toda de branco, mas continua de salto. Foi preciso usar luvas cirúrgicas para esconder o esmalte vermelho ``sangue`` que usava no dia das gravações . Tantas exigências, é por que está na hora de comecar a gravar as receitas que irão ao ar nesta semana. Orgulhosa, dona Maria Liseth Braga exibe seus inúmeros troféus que ganhou ao longo de sua vida. Sua última façanha, adivinhem! Um ensaio sensual, com fotos seminuas, regadas á fantasias e lingeries sensuais para um calendário. Tem quatro filhos, cinco netos, é viúva há 10 anos, é apresentadora de um programa de rádio, o ``Almanaque e Show da Vida`` há 16 anos, faz aulas de teclado, é relações públicas há 14 anos, é colunista em dois jornais de Congonhas, escreve receitas para a Revista ``Gerações``, sai constantemente na Revista ``Fatos e Fotos`` com suas receitas, ou como destaque de algum evento. Além disso, é cabeleireira, faz dança de salão, é voluntária em diversas áreas para pessoas carentes, é professora de culinária, só estudou até a 8 série, e já participou de vários programas de televisão, tais como ``Terra de Minas, ``MG TV``, Jornal Nacional``, ``Rede TV, e TV Horizonte e tem 74 anos. Ufa! Quanta disposição! Tanto que acumula um currículo extenso com diversos prêmios por sua grande notoriedade. Entre sua coleção de troféus, está o destaque como ``Artes e Celebridades/2002``, ``Mãe do ano 2002 e 2005``, ``Destaque Radialista/2002``, ``Destaque Jornal da Cidade/2004``, ``Troféu Cecília Meireles/2004``, ``Mulher Nota 10/2002 e 2003``, ``Mulher 100%/2005``, ``Mulher Nota 10-Área Social``, ``Destaque Mulher atuante profissional/radialista pelo Rotary Club de Congonhas``, ``Mulher atuante- Interclube Conselheiro Lafaiete/2005``, ``Membro titular do conselho da mulher``, ``Vice presidente do conselho Bolsa-Família``, entre outros prêmios. Liseth, como é conhecida, diz que não carrega o peso da idade sobre si, mas que procura sempre estar bem, aproveitando tudo de bom que a vida pode lhe proporcionar. ``A felicidade é a gente quem cria, e para isso não importa se você tem 25 ou 74 anos e se tem ou não, algum problema de saúde, a medicina existe justamente para ser usada solucionando nossos problemas``, afirma ela, que também pretende gravar um CD em breve, e diz que vai fazer um filme sobre sua vida. Ela se resume como sinônimo de felicidade, e conclui que ao contrário do que muitos imaginam, é possível envelhecer o corpo, mas manter a mente jovem. ``Gosto de mim, gosto do meu corpo, gosto de um bom vinho, amo uma dança de salão e por isso sou feliz``, afirma Liseth, que reforça que ainda pretende fazer um outro ensaio sensual, agora totalmente nua, mas para ser publicado, servindo de prova, que nunca é tarde para ser feliz e que a idade não pode ser um pretexto para não ser feliz. ``Sou a prova viva, garante ela``.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

JORNALISMO E HISTÓRIA

O ícone do jornalismo Domingos Meireles abre seu livro de grandes histórias e matérias jornalísticas


Por Erlinda Santos

``Não basta ser bom, a sorte é fundamental``. Essa é uma das frases que sintetizam o conteúdo da palestra ministrada pelo ícone jornalístico do Linha Direta, Domingos Meireles, aos estudantes de jornalismo na academia brasileira de letras no dia 04 de abril. O vencedor do Prêmio Jabuti de 2006 na categoria ciências humanas, conseguiu de forma categórica, prender a atenção de todos os presentes na palestra, ao relatar sua fantástica jornada de matérias que repercutiram no mundo todo, entre elas, a trajetória de literatura histórica em 1974, com a coluna Prestes, e o ciclo do tenetismo.
Segundo ele, seu maior desafio como profissional, foi quando entrou na editora Abril e fez duas matérias que chamaram a atenção. Fez a matéria sobre roubo de carros, que segundo ele, ficou sabendo dos furtos através de um anúncio de jornal. Ele foi ao Paraguai á procura de um carro roubado e encontrou 48. Acabou desvendando uma rede de crimes, que antes estavam camuflados, e ninguém dava tanta importância á um fato comum na época. Muitos carros eram roubados, acabavam cruzando a fronteira, nunca mais eram encontrados e acabavam ficando no esquecimento. A outra matéria que a ajudou a consagrar-se no mundo jornalístico, foi a matéria de um cego que tirou carteira, ``O cego e as quatro rodas``. Segundo ele, mesmo ainda despreparado para tanta responsabilidade, essas duas matérias legitimaram sua presença de 1968 á 1971 na editora Abril Afirmou ainda, que considera o fato de entrar de corpo e alma no mundo jornalístico, como uma questão de muita sorte, não desmerecendo seu esforço. Após a grande repercussão dessas matérias, recebeu muitas propostas, do Jornal da Tarde, Globo e Estadão. Em 1985, mesmo ainda não se achando preparado, recebeu uma outra proposta irrecusável da TV Globo. Confessou que foi muito mal recebido na redação, mas que isso não foi nenhum impedimento para que continuasse dando o melhor de si em suas matérias. ``Foi um milagre que tenha sobrevivido naquela época``, afirmou ele.
Mesmo eufóricos com a possibilidade de ganharem um autógrafo de Meireles nos livros que foram distribuídos na portaria, os estudantes se calaram e se concentraram no momento em que Domingos mencionou a origem das suas histórias. Ele contou com minuciosos detalhes a marcha da coluna na qual peregrinou durante 2 meses que foi de 1924 á 1927. Segundo ele, começou a colocar anúncios em jornais para achar pessoas desaparecidas na época do tenetismo e deixava o roteiro em emissoras de rádio para anunciar sua localização e sua chegada. Domingos disse que tinha uma dívida pessoal com os rebeldes e precisava prosseguir com as investigações. Ele afirmou ainda, que mudou o olhar em relação á coluna. ``A história oficial é a visão do vencedor, que olha o que interessa na defesa dos seus direitos, que de certa forma, se compara á história americana do bombardeio ao Iraque.
A história rendeu um livro, ``O ciclo do tenentismo, que já está na 12 edição, e de 1996 até agora, já vendeu 60 mil livros. Tentando fazer uma reprodução do fato histórico, Domingos foi ao interior da Bolívia e se dedicou ao trabalho de reconstrução do cenário e personagens. Entrou num tanque, procurou saber como funcionava uma metralhadora, e estudou todo o armamento envolvido na Coluna Prestes. ``Eles tinham alma e carne como nós``, desabafou. O segundo livro de Meireles ``Os órfãos da produção``, é como se fosse uma retranca do primeiro e aborda como os tenentes do exílio fazem as pazes com seus oponentes. A história de uma conspiração com todas as suas misérias e horrores. Segundo ele, seu objetivo foi visitar os locais desse horror e transmitir aos leitores toda a realidade vivida na época.
Outra matéria que Domingos se orgulha, é a pesquisa sobre suicídio, de como as mulheres se matavam. Segundo ele, um fato corriqueiro, mas que ninguém dá o devido interesse, e não procura saber quais os motivos reais que levam á esse desastre. Ele concluiu que a morte vem de acordo com a posição social. Ao mencionar essas matérias, ele insiste que a sociedade carece de importância em tudo que gira ao seu redor e fala do descaso de fatos que podem ser investigados e levados á sério. ``O meu interesse pela leitura e história tem o objetivo de estimular. Estamos construindo cada vez mais uma população de alienados, e falta de leitura é pior que a dengue``. Conclui ele.